sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Três anos


 

Juergen Koch, em 2007
(foto: Silvia Czapski)
Estimada Silvia:
En el día de aniversario del fallecimiento de tu querido padre, quería asegurarte de los cariñosos recuerdos que me unen  con él y decirte que te acompaño en tu pena y en tu soledad.
Afectuosamente,
Juergen

Há exatamente um ano - 12 de janeiro de 2012 - me emocionei com essa mensagem eletrônica de Juergen Koch, que vivia em Buenos Aires e tão carinhosamente rememorou o falecimento do primo, Juljan Czapski. Aos 97 anos, ele não só leu e se entusiasmou com a biografia Cavaleiro da Saúde, como contou duas histórias complementares incríveis, que se tornaram imperdíveis posts deste blog. (para ler, clique aqui e aqui

Quis o destino que Juergen deixasse este mundo em 29 de outubro último, conforme relataram as filhas, com a mesma delicadeza que marcava o pai.

Simultaneamente a essa lembrança, neste terceiro aniversário da perda de Dr. Juljan, rebrota em minha memória a repercussão de uma reportagem que tomou dois terços de página do jornal Folha de São Paulo, em 19 de janeiro de 2010.


Folha de São Paulo, 19/01/2010 
Seu título já diz tudo: Plano barra benefício a pioneiro do plano de saúde. Pessoas de todo país entraram em contato conosco, para manifestar a solidariedade.

O eficiente Estêvão Bertoni até poderia ter dado a notícia imediatamente após o falecimento do Cavaleiro da Saúde. Mas seguiu o ritual jornalístico de aguardar alguns dias, dando chance ao "outro lado" de se pronunciar. 

Vale à pena ler (ou reler), a reportagem, que tomo a liberdade de ilustrar com imagens encontradas ou incorporadas posteriormente no arquivo de Dr. Juljan:  
São Paulo, terça-feira, 19 de janeiro de 2010 
Plano barra benefício a pioneiro do plano de saúde.

Juljan Czapski, 84, morreu em decorrência de tumor no cérebro sem conseguir home care. 
Bradesco Saúde diz que prestou a cobertura prevista no contrato; médico fundou, nos anos 1950, a 1ª empresa de medicina de grupo do país. 
ESTÊVÃO BERTONI  
DA REPORTAGEM LOCAL
Policlínica Central, anos 1969: Dr. Juljan ao fundo,
onde a parede muda de cor (foto: arquivo pessoal)
Ele foi pioneiro dos planos de saúde no Brasil, ao fundar nos anos 1950 a primeira empresa de medicina de grupo do país.  
Polonês, médico pela USP e com mais de meio século dedicado à área, Juljan Czapski morreu na semana passada, aos 84 anos, em desavença com o plano que o atendia.
Médicos, familiares e até amigos tentaram convencer a Bradesco Saúde, seu plano, a conceder-lhe o home care, atendimento personalizado em casa, que não estava em contrato. O benefício não saiu, e a família alega nunca ter recebido sequer uma resposta formal.

A seguradora diz que prestou a cobertura prevista contratualmente. 
Czapski, que morreu na última terça em decorrência de um tumor no cérebro diagnosticado no meio do ano passado, tinha o plano pago pelo Sindhosp (sindicato dos hospitais paulistas), do qual era diretor.
Em novembro, ele foi internado no hospital Nove de Julho.
No início de dezembro, o médico responsável pelo seu tratamento solicitou ao plano que o paciente tivesse o home care - foi um dos vários pedidos feitos pela equipe médica.
O benefício não foi dado.
A partir de então, a família diz ter contatado diversas vezes a Bradesco Saúde, para pedir o serviço. Segundo a filha Silvia, os funcionários da empresa evitaram responder por escrito.
As conversas eram por telefone.
Até um amigo da família, o economista André Médici, consultor nos EUA do Banco Mundial na área de saúde, chegou a telefonar e enviar e-mails ao Bradesco, antes do Natal, na esperança de que concedessem o benefício. Não teve resposta.
Czapski não conseguia mais andar, tinha dificuldades para movimentar os braços e para falar. A família, então, custeou e montou em casa "um esquema tosco de home care", como descreve o filho Cláudio, que também é consultor de saúde.
"A curto prazo, eventualmente se economiza um trabalho de home care, mas o fato de ele ser negado acaba agravando a condição de vida do paciente e ele retorna ao sistema numa situação mais grave, que gera custos muito maiores", diz.
Segundo a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), que controla os planos, não há a obrigatoriedade de que o home care esteja em contratos, mas, por livre negociação com os clientes, eles podem oferecê-lo.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1901201014

ARTE: 
MÉDICO TAMBÉM PARTICIPOU DA FUNDAÇÃO E DA DIREÇÃO DO MAM, EM SP
Juljan Czapski e Alice Brill nos anos 1990
Médico que, em 1956, criou a Policlínica Central, primeira empresa do país de medicina de grupo a oferecer serviços a empresas, Juljan Czapski também foi ligado às artes. Quando ainda estudava, foi assistente de fotografia da mulher, a artista plástica e fotógrafa Alice Brill, 89. Czapski participou da fundação do MAM-SP (Museu de Arte Moderna), do qual foi diretor. Era ainda ligado a questões ambientais, tendo fundado uma associação de proteção ambiental em Itu (SP).
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1901201015.htm

Outro lado.
Bradesco Saúde diz que prestou assistência prevista
DA REPORTAGEM LOCAL

Em nota, a Bradesco Saúde afirma que prestou "toda a cobertura médica e hospitalar prevista contratualmente" durante o período em que o médico Juljan Czapski esteve doente e em tratamento.
"Todas as informações sobre o seguro de saúde do senhor Juljan Czapski foram prestadas ao seu médico assistente e à sua família, na pessoa da sua filha, Silvia Czapski, em reiterados contatos mantidos com a Bradesco Saúde", diz a nota.
A seguradora informa que uma internação foi solicitada no dia 6 de novembro de 2009, no hospital Nove de Julho, com duração até o dia 7 de dezembro, quando o paciente recebeu alta do médico assistente.
Já no dia 12 de janeiro, continua a nota, "o senhor Juljan voltou a internar-se, no Hospital Nove de Julho, condição esta que prevaleceu até o óbito, na mesma data".
A Folha teve acesso a um pedido, feito em 7 de dezembro, por um dos médicos responsáveis pelo tratamento, em que se reforça a necessidade do home care. A avaliação médica dizia: "Trata-se de um paciente que se encontra afásico [enfraquecido] e incapacitado para a marcha [caminhar] e totalmente dependente de cuidados e enfermagens médicas". 
A Bradesco Saúde não comentou sobre o pedido negado do home care e, questionada se já concedeu o serviço mesmo em casos não previstos em contrato, nada respondeu.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1901201016.htm
2008, congresso em Buenos Aires.Lideranças latino-americanas do setor-
-saúde, se reunindo para a foto oficial dos organizadores e palestrantes
(Dr.Juljan ao fundo, perto do quadro). Foto cedida por Dra. Luz Loo, do Peru.
Se Dr. Juljan estivesse vivo, provavelmente teria usado a reportagem para incitar o debate sobre políticas públicas relacionadas ao home care, tema que avança a passos lentos, apesar do forte vínculo com racionalização e humanização de tratamentos de saúde.

Em 23 de janeiro de 2010, apenas quatro dias após a publicação na Folha de São Paulo, André Medici, coautor de O Cavaleiro da Saúde, postou um esclarecedor artigo sobre home care em seu blog. Respondia, com isso, a pergunta de um leitor do artigo-homenagem que Medici escrevera para o mesmo blog em 15 de janeiro. Foi lá que, pela primeira vez, usou a expressão Cavaleiro da Saúde. Tão boa definição de Dr. Juljan, que se tornou, por votação, o título da biografia. 

Para saber mais
* A Saúde em Casa e os Planos de Saúdepara entender o 'Home Care' e suas perspectivas como parte do setor-saúde, artigo de André Medici, em seu blog, Monitor da Saúde.
* Juljan Czapski: O Cavaleiro da Saúde (1925-2010): artigo-homenagem de André Medici, postado, em 15/1/2010.


*
Morre Dr. Juljan Czapski, um grande visionário da saúde: Notícia do site da Feira+Fórum Hospitalar de 13/01;2010.

* Vídeo-homenagem a Dr. Juljan: não canso de ver e recomendar, sobretudo pelas imagens iniciais filmadas em 1929 na fazenda da Polônia onde dr. Juljan nasceu, Apesar de feito antes de iniciarmos a produção de O Cavaleiro da Saúde (2008), é quase um trailer do livro. Sete minutos. (Silvia Czapski).   

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